domingo, 23 de setembro de 2012

Alan Fonteles x Pistorius: passadas mais largas


Favorito para a final da prova dos 200 m rasos nas Paraolimpíadas de Londres 2012, Oscar Pistorius, que ficou com a medalha de prata, declarou que a prova não tinha sido justa por conta do tamanho das próteses do vencedor brasileiro, pois ele estava mais alto comparado com o mundial de atletismo na Nova Zelândia no ano passado. O comitê discordou, afirmando que a vitória foi legítima e que todos os competidores tiveram suas próteses auditadas antes da corrida, de acordo com o manual de classificação.

Alan Fonteles admitiu estar mais alto, com 1,81cm, contra 1,76cm do último mundial. Mas, apesar das críticas de Pistorius, a mudança é permitida pelas regras do Comitê Paraolímpico Internacional. A polêmica polarizou Londres em torno do tema ainda cercado de dúvidas: qual é o tamanho máximo permitido para as próteses dos corredores?


O Comitê Paraolímpico Internacional determina o tamanho máximo de um atleta com as próteses, projetando uma altura hipotética com a ajuda de um gráfico.  O cálculo é feito a partir da medição do “demi-span”, que é a distância do topo do tórax, próximo a garganta, até o dedo médio do braço esquerdo aberto no seu limite.  Essa medição é feita com o atleta de pé com as costas posicionadas contra uma parede, com o braço direito na posição de 90 graus e com a palma da mão erguida à sua frente.

A altura máxima de pé é então calculada seguindo a seguinte fórmula:

Mulheres(centímetros)=[1,35xdemi-span(cm)+60,1].
Homens (centímetros) = [1,40 x demi-span (cm) + 57,8].

A razão entre a projeção da altura do osso do ombro e a altura do "demi-span" é a estimativa final da altura máxima de pé.  Assim, o atleta, munido de suas próteses, não pode ficar mais alto do que esse número acrescido de uma diferença residual de 2,5%, para mais ou para menos.

É difícil dizer se o aumento das próteses de Alan influenciou no vencimento da prova sobre o Pistorius, mas podemos dizer que houve uma melhora, pois permite que ele dê passos maiores em relação a sua antiga altura. Estudos feitos sobre caminhada e corrida mostram que quanto maior o comprimento da perna, maior será o comprimento de sua passada. Isso significa que com pernas mais longas ele dará menos passos para percorrer certa distância, enquanto que uma pessoa mais baixa precisa dar mais passos para cobrir a mesma distancia.

Portanto, para manter a mesma velocidade, a frequência dos passos de uma pessoa de estatura menor deve ser maior que a frequência de passos de uma pessoa mais alta. Lembrando, que a grandeza freqüência (neste caso) é o número de passos por unidade de tempo. Um exemplo muito simples de se visualizar é um adulto e uma criança caminhando lado a lado, observe que a criança precisa dar mais passos para conseguir acompanhar o adulto.

As questões levantadas pelo atleta sul africano fazem sentido de modo geral, quando muito ainda há por se esclarecer com o uso de novas tecnologias auxiliando atletas nas competições. Entretanto, neste caso particular, ele questionou o inquestionável, porque em Londres, Alan ainda estava mais baixo do que Pistorius.
Matéria postada por Valquiria Bulhosa (aluna de licenciatura em Física )