terça-feira, 23 de setembro de 2025

O modelo da caminhada e a marcha atlética de Caio Bonfim

 

O professor Otaviano Helene, do Instituto de Física da USP, desenvolveu um modelo simples e elegante para descrever a caminhada humana. A ideia central é explicar por que existe uma velocidade “natural” para o andar, aquela em que o corpo gasta menos energia e o movimento se torna mais eficiente. Segundo esse modelo, a velocidade média pode ser estimada pela fórmula: V = 0,9√(gL) sen(θ/2),  nela, g é a gravidade local, L o comprimento da perna e θ o ângulo de abertura de uma passada. A equação se baseia na analogia entre a perna e um pêndulo, onde a oscilação dita o ritmo do movimento.

Em sala de aula, resolvemos aplicar este modelo à Marcha Atlética, com os resultados do brasileiro Caio Bonfim, campeão mundial dos 20km neste ano em Tóquio. Nesta prova, ele obteve a velocidade média de 15,27km/h.  Sabendo que Caio mede 1,74m, estimando o comprimento da perna dele em 80cm, e considerando a gravidade em Tóquio como 9,797m/s2 , ao usarmos a expressão acima para velocidade encontramos um valor de sen(θ/2) maior do que 1!  Valor fora da região de validade do seno.

Em outras palavras, não existe ângulo θ que permita ao modelo reproduzir as velocidades reais da Marcha Atlética. A conclusão é clara: o modelo de Helene descreve bem a caminhada comum, mas não se aplica à este esporte.  Afinal, nessa modalidade, o corpo utiliza outros ajustes biomecânicos — como a rotação do quadril e a extensão máxima da passada — que fogem ao comportamento simplificado de um pêndulo. Ainda assim, a experiência foi extremamente proveitosa. Ao testar um modelo em condições diferentes, descobrimos seus limites e reforçamos a beleza da Física: ela nos ajuda a compreender tanto o cotidiano simples de uma caminhada quanto as performances extraordinárias de atletas de elite.

Matéria produzida por Lucas Gabriel S. Diniz, aluno do curso Física Aplicada aos Esportes da UERJ.

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