quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A saída e a virada do Cielo

Nesta matéria irei comentar as impressões do ex-nadador Gustavo Borges, em entrevista concedida ao Jornal Nacional da TV Globo (20/12/2010), sobre o desempenho do nadador Cesar Cielo no Mundial de Natação de Piscina Curta 2010, realizado na cidade de Dubai. Desejo mostrar que vários aspectos físicos estão presentes na fala dele, claro que, os termos que ele usa não são os usuais do contexto científico, mas se reinterpretados podemos identificá-los com clareza. César Cielo foi o grande destaque da equipe brasileira nesta competição, venceu os 50 e 100 metros em piscina curta de 25 metros. Ano passado, em Roma, ganhou as duas provas na piscina olímpica, e pela primeira vez na história o mesmo nadador unificou os quatro títulos. Segundo a análise de Gustavo Borges, “César Cielo tem muita explosão muscular e velocidade. Qualidades de qualquer grande atleta de provas rápidas. Além disso, o brasileiro é dono de uma técnica apurada que o faz dominar com perfeição todos os fundamentos da natação. Na largada, o tempo de reação dele é sempre mais rápido do que o da concorrência. Uma das pernas sobe, o braço vai pra trás, fazendo uma alavanca. O corpo vai alto e mergulha antes. Nisso, Cielo já ganha alguns centésimos de segundo.....Na piscina de 25 metros, enquanto os demais já estão dando braçadas, ele permanece entre 12 e 14 metros embaixo d'água. O máximo são 15 metros”. O que o ex-nadador comenta faz sentido, normalmente, os nadadores dão impluso com as pernas e lança o corpo com braços e pernas esticados em direção a água, nesta situação o alcance do atleta até o ponto de imersão depende basicamente da força acionada pelas pernas e da inércia do corpo. Quando Cielo faz a largada, ele mantem uma perna dobrada, quando está em “vôo” a abaixa, fazendo esta perna funcionar como um braço de alavanca, com o ponto de rotação localizado no joelho, cuja força foi acionada pelo pé. Este movimento promove uma pequena rotação no corpo dele, inclinando-o e colocando-o ligeiramente mais alto. O movimento dos braços para trás aumenta a velocidade translacional do corpo dele como um todo, adiantando-o. Gustavo completa: “E mais: na virada, novamente César Cielo também fica mais tempo deslizando enquanto os demais já estão com o corpo sobre a água. Quando você faz a virada, você tem que ir um pouquinho pro fundo, pra passar da marola, pra marola bater na parede, pra você sair da água depois do volume mais forte da marola passar”, explica Gustavo Borges. Aqui outra vez podemos ver como é importante o entendimento das propriedades físicas das ondas mecânicas, no caso, a onda provocada pelo deslocamento dos nadadores dentro da piscina. Gustavo comenta que é necessário ir ao fundo da piscina para evitar a resistência da marola. Na verdade, como o Cielo normalmente está entre os primeiros a fazer a virada, enquanto ele está voltando, muitos nadadores ainda estão no movimento contrário e trazendo a onda da camada superior da piscina (onda incidente) provocada devido o deslocamento da água. Esta onda bate na parede da piscina e forma a onda refletida, que pode provocar efeitos combinados com a onda incidente. Enfim, para fugir dessas “turbulências” o nadador deve ir ao fundo, onde as lâminas de águas estão mais calmas. Numa prova tão rápida, outros aspectos também merecem atenção, mas para não ser cansativa, deixarei para comentá-los numa outra ocasião. César Cielo bem sabe que cada centésimo de segundo ganho na perfeita execução dos seus movimentos resultará no sucesso do resultado final.

Um comentário:

  1. Ótima explicação e durante a leitura é de fácil correlação com lembranças do que é escrito e um acontecimento do fato.

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