Nosso garoto, o Medina, com apenas vinte anos, é o primeiro brasileiro a ser campeão mundial de surf! Ele esteve à frente dos grandes ídolos deste esporte ao longo do ano todo, mas o que merece destaque foi o fato dele ser o único atleta a ganhar nota 10 (dez) nesta última etapa do campeonato mundial no Havaí. Essa nota foi conquistada após ele dominar um “tubo perfeito”!
Em geral, os juízes pontuam bem quando o
surfista consegue permanecer bastante tempo no interior do tubo d’água, mas
isto depende de vários fatores relativos à propagação e forma da onda, bem como,
da habilidade do surfista. Ao descer a
onda e entrar no tubo, a velocidade do sistema surfista-prancha é composta por
três componentes fundamentais: velocidade de propagação da crista da onda,
velocidade tangencial de turbulência da onda e velocidade devido à aceleração da
gravidade.
A primeira
diz respeito à velocidade de propagação da onda, uma vez que em um bom “swell”
de período longo (15-20s) a velocidade da crista da onda escala com o período
temporal e pode chegar de 20-25km/h! Sendo assim, inicialmente a remada do
surfista tem que impulsioná-lo a uma velocidade superior à da crista da onda, de
modo que ele possa pegá-la, caso contrário, a onda o engolirá.
À medida que
o tubo vai se formando, o surfista tenta ir até a base da onda para manter-se dentro
do tubo. Entretanto, isto é dificílimo, porque a onda tende a rodá-lo como uma
roupa dentro de uma máquina de lavar!
Aí o
surfista brinca com o fato de seu sistema (ele e sua prancha) estar sujeito à
gravidade e vai controlando o seu equilíbrio durante o movimento de queda livre,
deixando não toda, mas apenas parte das superfícies lateral e inferior da
prancha em contato com a água. Técnica
esta muito similar a aquela que os skatistas usam para descer corrimãos!
Uma vez
chegando à base do tubo ele tenta sair dali e retornar rapidamente para a
crista da onda, pois à medida que a onda se propaga na direção de profundidades
menores, a velocidade de propagação da base da onda se torna menor do que à
velocidade da sua crista, e o tubo se fecha e a onda se quebra. Para conseguir
escapar desta última “armadilha” da natureza, o surfista usa sua habilidade
para colocar boa parte da superfície inferior da prancha em contato com a parede
d’água, para que esta o coloque de volta na crista, antes que o tubo se feche
por completo. Nestes segundos finais, o
surfista aproveita o movimento de rotação ascendente da onda para sair dela
antes que o tubo se desfaça.
O sucesso
dessas três etapas maximiza a permanência do surfista no interior do tubo, e
isto é uma parcela importante em sua nota.
Por isso, fazer essas “manobrazinhas” aparentemente triviais, de uma cinemática
também muito “simplesinha”, dentro de ondas de 3-4m em alguns poucos segundos é
apenas para super-humanos, como o nosso “Garoto de Maresias”.
Aloha, boas
ondas, um Feliz Natal e um Próspero 2015 para todos!
(Matéria postada pelo Dr. Luiz G. Guimarães, professor associado da Coppe-UFRJ)
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