Na última
sexta-feira (17), a equipe brasileira masculina de tiro com arco formada pelo
trio Marcus
Vinícius, Daniel Rezende Xavier e Bernardo Oliveira, venceu Cuba na disputa
pela medalha de bronze nos Jogos Pan-americanos de Toronto 2015, por 5 a 3. O
Brasil amargava um jejum de 32 anos nesta modalidade (a última medalha havia
sido conquistada no Pan de Caracas, em 1983).
O
tiro com arco é um esporte cuja prática vem crescendo no Brasil, mais
especialmente em Maricá e Toledo, graças ao trabalho da Confederação Brasileira
de Tiro com Arco (CBTARCO), muito embora ainda não goze de grande popularidade de
público (a conquista nem chegou a ser televisionada). Os frutos do incentivo ao
esporte começaram a surgir há algum tempo e recentemente um dos integrantes dessa
equipe (Marcus Vinícius) chegou a ser prata no Campeonato Mundial com apenas 16
anos de idade.
A
física está muito presente nessa modalidade, cujo exercício envolve conceitos
diversos desde a escolha do equipamento, passando pelo lançamento e trajetória
da flecha, até a chegada ao alvo. Dentre os principais conceitos presentes podemos
citar a gravidade, o peso, a velocidade, a energia cinética e a energia
potencial elástica.
A gravidade é a responsável pela força
peso associada a massa tanto da flecha como do arco. Essa força atua através de
um ponto específico do corpo estudado, a esse ponto chamamos centro de
gravidade (CG). O arco posicionado na mão do arqueiro acaba virando uma
extensão do seu corpo, e como é relativamente leve torna-se sujeito a
trepidações no momento do disparo ou mesmo a variações na posição durante a
mira. Em razão disso usa-se um conjunto de estabilizadores (hastes posicionadas
frontal e/ou lateralmente ao arco) com a função de aumentar o peso do conjunto,
deslocar o centro de gravidade para frente e assim aumentar a estabilidade do
arco. A gravidade também é a responsável pela trajetória curvilínea da flecha,
pois introduz uma velocidade com componente variável no eixo vertical do
movimento. O atleta tem que saber compensar esse efeito para que atinja o alvo
com sucesso.
A
velocidade é outro fator importante nesse esporte. Uma flecha pode chegar a
atingir 250km/h e os fatores que podem influenciar nessa variável vão desde a
construção do arco e da flecha até o projeto aerodinâmico da última. Quanto ao
arco, basicamente sua função é armazenar energia potencial elástica através da
inclinação de suas extremidades e posteriormente transferi-la para a flecha na
forma de energia cinética. Essa troca é feita na ordem de décimos de segundo.
Numericamente falando, a energia envolvida não chega a 100J, mas a celeridade
do processo acaba por definir uma alta potência.
Outro
fenômeno que merece destaque recebe o nome do paradoxo do arqueiro e detalha o
comportamento da flecha que avança até o ponto de chegada flexionando
perpendicularmente em relação a direção da sua velocidade. É uma consequência da
maleabilidade da flecha, da força aplicada primeiramente em sua parte traseira
e da ponta de metal mais pesada provocando um aumento da inércia na parte
frontal. Esse evento só pode ser
visualizado através de câmera lenta e na internet podemos encontrar diversos
vídeos que auxiliam em sua visualização.
Não
sabemos se os atletas têm ideia da complexidade física envolvida ao executar os
movimentos mencionados, se realizam algum tipo de cálculo mental ou se tudo é
resultado apenas de intuição. Mas, temos certeza de que a união dos
conhecimentos físicos provenientes da ciência (através de um olhar mais
técnico) com as habilidades esportivas dos praticantes podem contribuir para o
aprimoramento e sucesso ainda maior da equipe brasileira de tiro com arco.
O trio
brasileiro fez bonito e está de parabéns! Esperamos e acreditamos que isso seja
o início do avanço desta prática esportiva no Brasil.
Matéria escrita pelo licenciando em física Thiago Manfredi
Matéria escrita pelo licenciando em física Thiago Manfredi
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