sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vento tirou medalha de ouro de Fabiana Murer no Pan 2011


Professora de física confirma: vento tirou medalha de ouro de Fabiana Murer no Pan 2011 no México

Ela explica que a ação do vento durante as práticas esportivas pode tanto beneficiar quanto prejudicar o desempenho dos atletas
AJESPORTES - Coordenados por Rosana Bulos Santiago, professora do Instituto de Física da Uerj, os estudos têm comprovado a significante e às vezes até mesmo determinante influência do vento nas diversas práticas esportivas e, conseqüentemente, nos resultados. Com isso, de acordo com a professora, dependendo de cada situação específica essa influência pode ser tanto benéfica quanto maléfica.
Os estudos sobre a influência do vento nos esportes têm encontrado resultados mais significativos naqueles praticados individualmente. Segundo Rosana, a não conquista da medalha de ouro por Fabiana Murer mês passado no Pan 2011, ocorrido no México, foi resultado praticamente direto da ação do vento no momento de sua apresentação. “Fabiana Murer justificou a perda da medalha de ouro por conta do vento ter mudado de intensidade. Ela relatou que fez o aquecimento com o vento forte e a favor, mas teve que esperar duas horas para saltar. Na hora de sua apresentação, o vento já era outro e, portanto, ela não teve como se recondicionar para aquela situação.  Nas provas de corridas, os recordes somente são homologados para velocidade de vento inferior a 2,0 m/s, ou seja, quando o sentido do vento está na mesma direção do deslocamento do atleta”, afirma a professora.
Diante de tal problemática, Rosana acredita que a ação do vento também pode proporcionar um espetáculo à parte aos espectadores. “Por exemplo, no futebol, existem algumas situações que favorecem o cobrador de falta, outras desfavorecem. Quando se chuta uma bola de ‘três dedos’ – quando o jogador chuta com a parte externa do pé – ela sai girando e o fato de haver resistência do ar no meio faz uma diferença de pressão entre o lado superior da trajetória da bola e o inferior, resultando nas curvas imprevisíveis (como foi o caso do gol do lateral Maicon pelo Brasil contra a Coréia do Norte na última copa do Mundo). Além da resistência do ar, caso o vento esteja presente, outros efeitos irão surgir modificando a trajetória da bola”.
Para a professora Rosana, pensar a construção de centros esportivos em função dos efeitos físicos, tal como o vento, é uma outra questão de difícil solução, pois outros fatores também são relevantes, tais como a preservação do meio ambiente, o fácil acesso pelos usuários nas grandes cidades etc. “O que realmente deve ser levado em conta são os efeitos que o vento, assim como a altitude,  acarretam nas diferentes modalidades. Isto é fundamental para tornar a metodologia da competição mais justa. Por exemplo, deve-se criar regras mais flexíveis, caso o vento fique muito forte. Lembro de recentemente ter visto na televisão um episódio em que o goleiro de um determinado time de futebol lançou a bola e o vento era tão forte que a bola voltou e foi para fora do campo. Em outras pesquisas, dessa vez com foco nas modalidades de corrida, calculamos matematicamente e observamos que se fosse considerada a velocidade do vento muitas classificações seriam alteradas. O atleta que disputa com vento “contra” é muito prejudicado”, diz.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A física da única brasileira Tetra-campeã Panamericana




Mais um motivo de orgulho para o esporte brasileiro.   Campeã nas edições de
Winnipeg-1999, Santo Domingo-2003 e Rio-2007, na categoria Karatê Kumite até 68 kg,  Lucélia Ribeiro tornou-se a primeira única brasileira a conquistar quatro medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos ao ganhar a final do karate em Guadalajara, no Mexico em 2011.
Já fazia algum tempo que eu esperava sair na mídia algum resultado expressivo do Karate brasileiro, e valeu pena esperar, pois veio com brilho de ouro! Como de costume, gosto de contextualizar nossos estudos em acontecimentos atuais.  Portanto, precisava de subsídios para apresentar um resultado que nosso grupo de pesquisa em Física fez sobre o golpe do Gyako-zuki.    
O Gyaku-zuki assemelha-se a um soco, precedido da rotação do quadril.  A mão que golpeia, inicia seu movimento junto ao quadril, acompanhando sua rotação.  As pernas permanecem abertas e fixas no mesmo ponto. Ao término da rotação do quadril, o braço é estendido, lançando um soco que atravessa uma linha reta para frente até atingir o alvo. 
A partir da análise da filmagem deste golpe constatamos que a rotação do quadril descreve um movimento circular uniforme (MCU), ou seja, em intervalos de tempos iguais o quadril gira o mesmo ângulo.  Em seguida, o soco, descreve um movimento uniformente variado (MUV). Melhor dizendo, o braço é estendido, percorrendo distancias diferentes em intervalos de tempos iguais.
Usando modelos físicos associados a estes movimentos, foi possível determinar a intensidade da força final que o braço de um karateca faz ao colidir com o seu alvo.   Nada complicado do ponto de vista físico. São conteúdos usualmente tratados no 1º. ano do ensino médio!

Dessa forma foi possível mensurar a intensidade do golpe Gyako-zuki produzido por um karateca que "pesa" 70kg e tem cintura entorno de 88cm.  Este atleta pode atingir a força final de até 3000N, se a velocidade inicial de sua mão ao sair da posição junto ao quadril for de 2,5m/s.  Força extremamente grande!  
Para se ter uma noção de comparação, um objeto de 70kg, caindo livremente devido a ação da gravidade, sofre uma força de aproximadamente 700N.  Concluindo: o corpo humano é capaz de produzir forças enormes! Imagine, então, as intensidades dos golpes que a oponente da nossa tetra-campeã levou na disputa da medalha de ouro!

Para quem quiser saber mais sobre este trabalho ler a Revista Física na Escola, v. 10, n. 2, 2009, autores: Rosana B. Santiago e José Carlos Martins.
  

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A velocidade média da prova feminina 4x100m do Pan 2011


A equipe de Atletismo brasileira no Panamericano de Guadalajara 2011 teve um resultado expressivo ao receber quatro medalhas de ouro nas provas de velocidade. Foram três ouros conquistados no feminino (100m, 200m e 4x100m) e um no masculino (4x100m).  Alguns aspectos das provas de corrida feminina nos chamaram a atenção, e valem a pena serem elucidados numa breve discussão.


Normalmente, a velocidade média da prova de 400m rasos (distancia percorrida por apenas um atleta) é mais baixa do que a prova de 100m rasos.  No entanto, isto não acontece quando comparamos a velocidade média da prova dos 4x100m (onde quatro corredores participam) com a prova de 100m.  Como foi o caso deste Pan: os 100m foi vencido pela brasileira Rosangela em 11,22s, obtendo velocidade média de 8,91m/s. Enquanto que, os 4x100m obteve a marca de 42,85s, e velocidade média de 9,34 m/s; contando com a participação de Rosangela na equipe.      

O que faz a diferença para que isso ocorra é a velocidade inicial nos 4x100m ser não nula para três das quatro corredoras. Somente a primeira atleta parte do repouso com saída no bloco. As outras três atletas começam a correr antes de pegar o bastão, na chamada faixa de transição do bastão, e quando ocorre a troca do bastão, elas já haviam acelerado o suficiente para que no momento da pegada do bastão estarem com uma velocidade inicial grande.  Somente a partir do momento que o atleta segura o bastão é que começa a contar os 100m que este deve percorrer.

Portanto, a influência da velocidade inicial diferente de zero, faz com que a velocidade média dos 4x100m seja maior do que a dos 100m rasos, fazendo com que o tempo médio de corrida de cada atleta nesta prova seja inferior ao do vencedor da prova de 100m.
(Postado por Osmar Preussleur Neto)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Será que foi realmente o melhor tempo do ano?




Havia uma grande expectativa sobre o desempenho de Usain Bolt no Mundial de Atletismo realizado na cidade de Daegu - Coréia do Sul. Essa expectativa se justifica, pois era a maior competição do ano, além do atleta estar vindo de uma lesão. Na prova classificatória Bolt obteve o resultado de 10,10 s, se classificando para a semifinal, prova em que obteve o resultado de 10,05 s. Esse tempo obtido na semifinal colocou na final com o segundo melhor tempo, fazendo com que corresse na raia 5. Na final houve uma grande surpresa, Bolt queimou a largada, sendo desclassificado. Em uma nova largada, o atleta jamaicano Yohan Blake venceu a prova, se tornando campeão mundial dos 100 metros com o tempo de 9,92s. Junto com a classificação final contendo o tempo de cada atleta, é divulgada a informação sobre a condição do vento durante a prova, como pode ser visto no site da competição (http://daegu2011.iaaf.org/ResultsByDate.aspx?racedate=08-28-2011). Nessa prova o vento estava a -1,4 m/s. 

O que significa o sinal de negativo na velocidade do vento?
Para caracterizar o vento temos o sinal, negativo ou positivo, para informarmos o sentido do vento. No caso desta prova a direção era a mesma do deslocamento do atleta e o sentido era oposto ao movimento dele, já que temos o sinal negativo.

O vento é de fundamental importância em provas curtas (como é a prova de 100 metros), como podemos observar pelo critério de vento com velocidade máxima de 2m/s para homologação de recordes. Isso ocorre devido a influência do vento na força de arrasto, ao qual o atleta é submetido ao se locomover.
Após a final do Mundial Bolt declarou que iria buscar a melhor marca do ano na prova, fato que ocorreu no dia 16/09 em Bruxelas – Bélgica. Ele obteve o resultado de 9,76 s com o vento a 1,3 m/s. Mas, se pudéssemos comparar os resultados em condições iguais de vento, essa seria a melhor marca do ano até o momento?
Para realizarmos essa comparação “mais justa” temos um modelo físico-matemático, proposto por Pritchard em 1993, que propõe uma forma de comparar através de uma equação baseada em conceitos da mecânica dos fluidos e algumas considerações.
Ao aplicarmos esse modelo para o tempo de Bolt obtemos o tempo de 9,83 s como se ele tivesse corrido com vento nulo. Fazendo o mesmo procedimento para o resultado de Blake no mundial, prova disputada com o vento contra, temos o tempo de 9,83 s. Por isso, ao compararmos essas duas performances “teríamos um empate”. Ao consultar o site da IAAF pode-se observar que Blake teve seu melhor desempenho com o tempo de 9,82 s, em Zurich, na Alemanha, com o vento nulo. Daí podemos dizer que se levarmos em consideração as contas desse modelo Bolt ainda não teria atingido seu objetivo. 

(Postagem de Osmar Preussler Neto, Professor de Física da rede estadual do RJ)
Esta corrida pode ser visualizada no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=V_Cv4HSWeaM

A Falsa Largada de Bolt em Daegu



O Mundial de Atletismo que ocorreu este ano na Coréia do Sul, na cidade de Daegu,  trouxe á tona uma série de questionamentos, antes não levantados pelos telespectadores que apreciam as provas de pista.  Esta parte do atletismo, disputada deste os tempos das primeiras olimpíadas na Grécia (776 A.C.), tem tradição e público cativo mesmo nos tempos modernos.  É capaz de levar multidões de pessoas as arenas de competições.    A corrida de 100m rasos é a mais esperada por todos, embora polêmico do ponto de vista de definição física, atribuiu-se o título de “Homem mais rápido do mundo” ao vencedor desta prova.  Nos últimos campeonatos, ninguém foi mais rápido do que Usain Bolt; atleta jamaicano que venceu o Mundial da Alemanha 2009, com o exíguo tempo de 9.58s!
Afastado das competições desde os meados 2010, Bolt era aguardado em Daegu. Nas eliminatórias ele cruzou o percurso com facilidade, 9.86s, bem a frente dos seus concorrentes. Mas o inesperado foi vê-lo queimar a largada e ser desclassificado na final dos 100m!  Para nós que víamos a prova pela televisão, ficou a pergunta: Como Bolt instantaneamente soube que foi ele quem havia largado antes do sinal sonoro tocar? Como que os jurados em tão poucos instantes atestam a falsa largada? 
Nas provas de corrida de curta distancia o tempo mínimo admitido para um corredor sair da inércia e começar seu movimento de partida é 100ms após o tiro sonoro (suponho que este tempo esteja relacionado ao tempo mínimo de reação humana a um estímulo auditivo). 
Mas, aos olhos nus, isto é quase imperceptível!   
Nestas provas de corrida são colocados blocos de partida com sensores capazes de atestar a variação de pressão dos pés dos atletas ali encostados.  Através de software adequados são produzidos gráficos de intensidade da pressão em função do tempo para cada corredor, que discutiremos a seguir e por nós obtidos no site científico http://www.sportsscientists.com/ .
A figura apresenta a intensidade dos pés dos atletas Wallter Dix (raia 4, a superior), Bolt (raia 5, do meio)e Blake (raia 6, de baixo).  As linhas verticais em cada raia representam os seguintes instantes: a cinza significa o momento do tiro sonoro, a verde o tempo mínimo da largada, e a vermelha o momento que de fato o atleta largou.   Como pode ser verificado Bolt largou 104ms antes do disparo. W. Dix 139ms e Blake 153ms, ambos após o tiro.  
Vendo este gráfico não há dúvidas que Bolt queimou a largada e ele mesmo percebeu que saiu antes do disparo!   
Mas, por que isso aconteceu?  Bolt sabia que seus concorrentes não apresentavam tempos que o assustassem.  
Olhando ainda esta figura observa-se uma pequena alteração na raia do Blake  (círculo) que talvez represente uma tentativa de partida dele antes do sinal sonoro. Talvez, e muito talvez, este pequeno movimento tenha, enganosamente, levado Bolt a se antecipar, e partir antes da hora! 
No mais, somente ele mesmo para dizer! 





terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fabiana Murer: Campeã Mundial de Salto com Vara em 2011

Ao saltar 4.85m em Daegu, na Coréia do Sul, Fabiana Murer conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil em Mundiais de Atletismo em pista aberta. Motivo de orgulho para a nossa nação que além de passar por uma fase ruim neste esporte, nunca teve um atleta que chegasse tão longe nesta modalidade!

O auge do sucesso de Fabiana aos 30 anos é resultado de uma longa trajetória de empenho e dedicação individual, somado ao seu talento. Devido à falta de investimentos no Brasil, os salários e viagem da sua pequena equipe são pagos por uma empresa privada, incluindo aí, seu técnico Elson Miranda, e a co-orientação do russo Petrov, há 10 anos.


Imediatamente após o encaixe da vara, o movimento do corpo da atleta pode ser visto como de lançamento de projétil (catapulta). Atingirá grandes distancias a medida que a velocidade de chegada da atleta for a maior possível e o ângulo da vara com relação ao solo seja o mais próximo de 45º. Fabiana surpreende a todos por ter domínio absoluto de sua técnica; após finalizar seus 18 precisos passos atingi 29,8km/h, e é uma das poucas atletas que consegue encaixar a vara no poço de uma maneira quase ideal!

Por outro lado, todo esforço desta atleta fenomenal seria em vão se o aprimoramento dos novos materiais de carbono não estivesse tão avançado! Possibilitando a produção da vara de fibra de carbono e resina de epóxi com núcleo de fibra de vidro, material bastante leve e flexível. Medindo 4,6m, pesa apenas 2kg.


 http://www.youtube.com/watch?v=yKaF4RD7dtI

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Emanuel: Tricampeão Mundial de Volei de Praia

Quando criei este blog, decidi que ele não seria do tipo que descreve os acontecimentos ocorridos pelo autor, e sim resultado de uma reflexão de conteúdos científicos contextualizados no dia a dia dos diversos esportes. Mas, hoje me permito quebrar esta regra, e contar o que vi nesta manhã de pouco sol, na praia do Leme, no RJ. Fui brindada ao esbarrar ocasionalmente com o treino do consagrado jogador de vôlei Emanuel e seu recente parceiro Alison Cerutti, atuais detentores da medalha de ouro do Mundial de Vôlei 2011, ocorrido em Roma.
Emanuel é um dos maiores atletas desta modalidade, nem tanto pela sua altura de apenas 1.90m (para o vôlei, considerada estatura mediana), mas sim no que se refere às inúmeras vitórias e títulos ao longo de sua carreira. Ele é tricampeão Mundial (2011, 2003, 1999), campeão olímpico em Atenas (2004), bronze em Pequim (2008). Foi escolhido como o Atleta da Última Década do Século na votação patrocinada pela Federaçao Internacional de Volei (FIVB), e atualmente é o maior vencedor do Circuito Mundial de Vôlei de Praia. Calculem a minha emoção ao me dar conta que eu era a única pessoa que constituia a platéia naquele momento mágico!
As jogadas são exaustivamente repetidas, saques, levantadas, cortadas, sequências com combinações dos fundamentos, entre outros. Como não poderia deixar de falar de física, pude perceber o recurso do levantamento via manchete, possibilitando o atacante ganhar mais tempo, vencer a dificuldade de deslocamento na areia por conta do grande atrito, e alcançar a bola. Diferentemente do volei de quadra quando o levantamento é feito com o movimento chamado “toque”, no levantamento via manchete a bola ganha um movimento muito mais verticalizado, ou seja, a componente da velocidade da bola na vertical é bem maior do que a da horizontal. De modo que a técnica de recepção do atacante também é diferente daquela do volei de quadra, e creio eu, um pouquinho mais difícil. Lamentei não ter levado meu celular para filmar o que vi !

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Só o Cielo dos 50m livre para ganhar do Cielo dos 50m borboleta

Depois de muita polêmica, preocupação e aflição, César Cielo conseguiu competir no Mundial de Xangai. A competição organizada pela FINA (Federação Internacional de Natação) entrou para a história do Brasil. Foi a melhor campanha que já tivemos. César Cielo conquistou o ouro nos 50m livre e nos 50m borboleta, duas provas que ele nunca irá esquecer. O nadador brasileiro ainda foi escolhido por voto popular, como representante da América do Sul na cerimônia de encerramento. Depois desse brilhante desempenho de Cielo, a pergunta que não quer calar é: ”Alguém consegue ser mais rápido do que o nosso campeão?” Isso só o tempo dirá, porém, achamos que o primeiro desafiador a altura dele seria o próprio Cielo. O que aconteceria caso o César dos 50m livre e o dos 50m borboleta se enfrentassem raia a raia? A resposta é muito intrigante, utilizando os tempos deste mundial para comparação (21,52s no estilo livre e 23,10s no estilo borboleta) e fazendo o cálculo da velocidade média de cada estilo, o nadador do nado livre chegaria ao final da prova com uma vantagem de aproximadamente 3 metros e 42 centímetros na frente do que estaria nadando borboleta. Ou seja, quase dois corpos de vantagem! Isso fica ainda mais intrigante se comparada a pequena diferença de pouco mais de um segundo nos tempos destas provas. O que se deve essa tamanha diferença na velocidade dos estilos? Que fatores contribuem para que o atleta se desloque com maior ou menor facilidade? Como a física pode ajudar a explicar isso? Bem, como consideramos o mesmo nadador e a mesma piscina, fica claro que o diferencial entre os dois tempos é o estilo do nado. Acontece que no nado livre (ou o crawl como é mais conhecido) o atleta fica com o corpo todo paralelo a superfície da água, somente seus braços saem da água para realizar o movimento de impulsão. A força associada a resistência da água – força de arrasto- está basicamente concentrada nos ombros e cabeça. Por outro lado, no nado borboleta, o atleta nada numa posição mais inclinada em relação à superfície da água e tem que lançar boa parte do seu corpo para fora d’água para, então, pegar novamente impulso e continuar a se locomover. Devido a isso, o nadador tem uma área frontal muito maior para ser “deslocada” contra a água, enfrentando assim uma resistência mais forte ao seu movimento. Como também, ele perde tempo e energia cinética subindo e descendo o corpo. Obviamente, existem outros fatores relevantes do ponto de vista físico e psicológico do atleta que influenciam o resultado. Mas, podemos afirmar que a força de arrasto que se opõem ao deslocamento do atleta é maior no nado borboleta do que no livre. Portanto, este aspecto teve grande parcela de culpa pela derrota de César Cielo na prova de nado borboleta contra ele mesmo na prova de nado livre. A física dos esportes foi até Xangai para responder as perguntas! (Esta materia foi escrita por Kauê Luan P. Azevedo, aluno de Licenciatura em Física da UERJ)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Orientação: o esporte que usa a bússola

A quinta edição dos Jogos Mundiais Militares aconteceu neste mês de julho, pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Neste evento foram disputados esportes tradicionais e outros desconhecidos pela maioria dos cidadãos civis, entre eles, destaco a modalidade a Orientação. Este esporte, disputado por homens e mulheres, tem por objetivo avaliar a capacidade do atleta ou da equipe em se orientar com ajuda de uma bússola e um mapa em território inóspito. As provas são divididas em percurso médio, com cerca de 45min, e longo, estimado em 1h15min. Na competição, o atleta precisa passar por diversos pontos de controle pré-determinados no menor tempo possível, até atingir a linha de chegada. A Orientação surgiu na Suécia, no fim do século 19, com a evolução de bússolas mais confiáveis na década de 30 a modalidade cresceu, mas somente em 1965 teve o seu primeiro campeonato militar internacional. Nesta edição do JMM foram inscritos 209 atletas de 28 países para disputas as provas de Orientação. Atribui-se a invenção da bússola aos chineses a mais de 2000 anos A.C. Aquela época, a bússola consistia em uma agulha imantada magneticamente boiando num recipiente com água. Desde então, foi largamente utilizada em navegação devido à propriedade da agulha alinha-se na direção do campo magnético terrestre, apontando para o norte magnético. Em primeira aproximação, podemos dizer que o campo magnético produzido pela Terra tem a forma de um dipolo magnético, e sua intensidade varia ponto a ponto sendo maior nos pólos norte e sul geográfico. Vale lembrar, que os pólos geográficos não coincidem com os pólos magnéticos, ou seja, o que é pólo norte geográfico é pólo sul magnético e vice-versa. Hoje em dia, ainda é objeto de pesquisa entender a origem e a forma do campo magnético terrestre, sabe-se que no interior do nosso planeta há muito ferro e níquel, que são materiais magnéticos. Os materiais magnéticos, mais conhecidos como imãs, possuem a propriedade de se atraírem ou se repelirem, e todos eles produzem um campo magnético entorno de si mesmo. Desta forma quando a bússola aponta para o norte magnético terrestre é porque o “sul” da agulha imantada está sendo atraído para lá. Com o advento do GPS (sistema de posicionamento global) a bússola já não é tão utilizada como recurso de orientação nos transportes coletivos, mas ainda tem grande valor por ser um instrumento simples e de fácil acesso. Portanto, saber manipulá-la é de suma importância para garantir segurança em situações de risco, e é justamente nesta vertente que o esporte Orientação tenta aprimorar esta destreza.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Maurren Maggi corrigindo o tempo com o modelo de Pritchard

Para quem gosta de atletismo, o mês de maio de 2011 foi especial, com uma sequência de competições nacionais e internacionais pudemos apreciar nossos ídolos competindo no que melhor sabem fazer! Mas aqui, quero comentar a nota divulgada pela saltadora Maurren Maggi no seu blog, quando ela relata as condições climáticas que as provas foram disputadas no GP Sul-Americano de Atletismo, na pista do Sesi de Gravatás, em Uberlândia:
“Esse ano, Éolo (o deus grego dos ventos) pregou uma peça em todo mundo, e resolveu soprar para o outro lado. Foi difícil para o pessoal correr e saltar contra um vento de cerca de 3 m/s…”. Mais adiante ela continua: Com isso, os resultados pareceram fracos, na maior parte das provas. Os 100m masculinos, por exemplo, foram vencidos pelo inglês Dwain Chambers, com 10s19, e vento contra de 3,1 m/s. Um resultado comum, que não chama a atenção. Mas dá para calcular quanto ele teria corrido sem vento nenhum: 9s97 – essa seria a melhor marca já corrida em solo brasileiro!
Mesmo em condições de vento nulo, o atleta ao se deslocar num meio tem que superar a força de arrasto, esta força é provocada pela resistência do ar e se opõe ao movimento do saltador. Quando o vento está presente e no sentido contrário ao deslocamento do atleta, a força de arrasto se torna mais intensa e prejudicando mais ainda o desempenho do atleta. Maurren sabe o que está falando, além de perceber na prática a dificuldade de saltar contra o vento ela se apropria da fala e das ferramentas de um físico ao calcular e relatar corretamente qual teria sido o tempo do atleta inglês caso ele tivesse corrido sem vento. Para tal cálculo ela usou o modelo físico-matemático de Pritchard (1993) que leva em conta algumas grandezas físicas, tais como, a velocidade do vento, a densidade do ar, a área frontal do atleta, o coeficiente de arrasto e o tempo obtido pelo atleta nas condições da prova. Eu já era fã desta campeã olímpica, agora minha admiração cresceu ainda mais, pois Maurren neste simples relato mostrou que amplia suas fronteiras de conhecimento além daquilo que lhe cobrado!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Acompanhamento da posição de maratonista por um ship

A FAPERJ, Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, lançou edital no início de 2010 buscando apoiar o desenvolvimento de inovações no esporte, e já vem colhendo seus frutos.
Um dos projetos apoiados pela FAPERJ foi o do empresário Bruno Leonardo de Souza Christ, que propôs utilizar a tecnologia de identificação por rádio-frequência - RFID, na sigla em inglês - para o controle e acompanhamento de esportistas cíclicos, como maratonistas e ciclistas. São esportes que podem ter grande número de participantes (visto os 20.000 atletas da última São Silvestre), com muitos deles alcançand­o as linhas de chegada quase que simultaneamente (como ocasionalmente ocorre nas arrancadas finais de grandes provas de ciclismo), o que cria problemas para ranqueá-los e torna praticamente impossível acompanhar o desempenho de cada um dos atletas em diversos pontos ao longo da prova... ao menos até agora.
A tecnologia criada por Bruno em parceria com a Allen Informática e financiamento da FAPERJ, promete acabar com esses problemas. O atleta utilizaria no tronco, ou pulso ou até na própria bicicleta, um RFID descartável e de baixo custo, fazendo assim o seu monitoramento inclusive em multidão de outros esportistas.
O RFID utilizado por Bruno consiste num transponder, do tamanho de uma etiqueta, que emite um sinal em resposta a uma emissão de uma base transmissora. Esses aparelhos comunicam-se entre si através de rádio-frequência, que faz parte do espectro eletromagnético, da mesma forma que a luz visível, o raio-X e o microondas. Todas elas viajam a velocidade da luz e diferenciam-se entre si apenas pelo seu comprimento de onda, como se diferenciam cada uma das cores que nosso olho consegue distinguir. Essa é uma definição mais ampla sobre o que é a luz, e que costumamos nos referir apenas como aquilo que conseguimos enxergar, que, na realidade é a sua menor parte.
Assim, a rádio-frequência também é luz, e viaja a 300.000 Km/s (com essa velocidade se daria sete voltas e meia em torno na Terra em apenas um segundo). Essa é outra vantagem do método de medição utilizado por Bruno, pois possui atraso de medida apenas referente ao tempo de resposta do equipamento, o que é desprezível. Tecnologia similar já é utilizada, por exemplo, em painéis de carros para o pedágio automático, ou em equipamento anti-furto, pois cada RFID é capaz de ter um único número de identificação.
A proposta de Bruno é colocar série de bases transmissoras ao longo da prova e colher, para cada atleta, os tempos e distâncias percorridas, permitindo fazer uma análise rigorosa de seu desempenho. Já foram realizados testes em competições, sendo o resultado satisfatório tanto a Bruno como para os atletas e organizadores do evento. O objetivo agora será convencer outros organizadores a testar a idéia e, quem sabe, até chegar nas Olimpíadas de 2014!
Pessoalmente, acredito nessa ideia.

Postado por Rodrigo Colpo (aluno de licenciatura em Física da UERJ).

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Física ensina ao Ronaldinho Gaúcho a não perder penalti

Após negociação milionária, o jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho chegou ao Flamengo no início de 2011 sob grande expectativa da torcida rubro-negra. Desde então, ainda não foi vista uma grande atuação dele, mas torcedor que é torcedor sempre tem uma desculpa para justificar o baixo rendimento do seu ídolo. Entretanto, neste último domingo (17/04), ficou difícil para qualquer torcedor fanático justificar um pênalti perdido por ele aos 49 minutos do segundo tempo, quando daria a vitória para o Flamengo sobre o Macaé na fase semifinal da Taça Rio. Ronaldinho cobrou o pênalti como um iniciante, chutando a bola no meio do gol e para fora! Somente, seu técnico Vanderlei Luxemburgo, em entrevista ao 'Sportv', conseguiu afirmar que o jogador não deveria pedir desculpas a torcida pelo pênalti perdido, já que isto é uma situação normal de jogo!
Para ajudar o Flamengo, o técnico e o nosso super astro, não repetirem situação desastrosa como esta, recomendamos que eles tomem ciência do trabalho científico desenvolvido pelo físico Ronald Ranvaud, Prof. Dr. do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, onde ele aponta quais estratégias que os cobradores de falta devem adotar para convertê-las em gol. Seu estudo mostra que existem duas posições ótimas onde a bola deve incidir no momento da cobrança, que ficam próximas dos cantos superiores do plano frontal do gol. Entretanto, para converter o pênalti a favor do cobrador, é necessário que a bola atinja velocidade superior a 80km/h, de modo que a bola chegue a posição ótima antes do goleiro. Esta teoria foi testada experimentalmente por jogador e goleiro experientes, em cada dez tentativas nove foram concluídas com sucesso, ou seja, 90% de acerto! Logo, perder pênalti não deve ser visto como uma situação normal num jogo, como afirmou Luxemburgo.
Click no link abaixo, e assista o programa do Globo Esporte com o Prof. Ronald Ranvaud, em 2009, quando ele explicou em detalhes seu trabalho.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O salto de Daniele Hypolito supera o Momento de Inércia

Única representante da seleção feminina de ginástica artística, Daniele Hypolito conquistou a medalha de ouro no salto na etapa de Doha da Copa do Mundo, na quinta-feira, dia 31/3/2011. O salto sobre a mesa é a prova mais rápida deste esporte, dura aproximados 50 segundos, incluindo apenas o momento dos dois saltos aos quais o ginasta tem direito. A prova é composta por uma pista de 25 metros, que termina em um trampolim de impulso e finalmente numa pequena mesa. O ginasta deve saltar sobre o aparelho partindo do trampolim apoiando as mãos sobre a mesa em um movimento acrobático onde são avaliados altura, dificuldade de execução e chegada. Estas acrobacias podem ser realizadas entorno dos três eixos de rotação do corpo humano quando o atleta encontra-se em vôo. Abaixo exemplificarei algumas situações para melhor compreensão da definição desses eixos: Por exemplo, o movimento de uma pessoa em pé rodando entorno de si mesma pode ser associado a um rotação entorno do eixo longitudinal, este eixo passa ao longo do corpo na direção vertical. A execução de uma cambalhota é feita entorno do chamado eixo transversal que passa no meio do corpo na direção horizontal. A realização de uma “estrela” é um movimento entorno do eixo antero-posterior que é uma linha imaginária que passa cortando o umbigo. Como é fácil perceber, a dificuldade não é a mesma para se realizar movimentos entorno destes três eixos, rotacionar ao longo do eixo longitudinal é bem mais fácil do que excutar uma cambalhota ou uma “estrela”. A fisica tenta explicar o porquê dessas diferenças com relação a facilidade de rotacionar entorno de um eixo ou de outro. A grandeza física que explica este fenômeno é o Momento de Inércia, e que está relacionado com a distribuição de massa do corpo ao longo de um determinado eixo de rotação. Se boa parte da massa do corpo se posionar distante do eixo ao qual se quer rotacionar ficará mais difícil para executar o movimento, porque terá um braço de giração maior. Observe que os nossos pés estão mais distante do eixo transversal do que o longitudinal, da mesma forma que a nossa cabeça. Assim, Daniele Hypolito soube conjugar com sabedoria estes fatores e executou com maestria o seu salto, rotacionando em vôo ao longo desses eixos numa sequencia de movimentos incríveis, o que lhe conferiu a primeira coloção neste campeonato!
O endereço abaixo apresenta o vídeo deste salto:

domingo, 3 de abril de 2011

A tecnologia a favor de Diego Hypólito

Com recursos da Finep - empresa do governo, financiadora de estudos e projetos - e também do Confederação Olímpica Brasileira, o Laboratório Olímpico está sendo montado no Parque Aquático Maria Lenk e no Velódromo. Este laboratório está sendo implementado com a finalidade de desenvolver pesquisas em biomecânica, bioquímica, nutrição, entre outras áreas ligadas as ciências dos esportes. Já há muito tempo outros países, como Alemanha, Japão, Rússia, etc, fazem uso da tecnologia e de seus resultados científicos para melhorar o desempenho de seus atletas. Aqui no Brasil este movimento ganhou força, e recurso financeiro, em função do nosso país ter sido escolhido para sediar os jogos olímpicos de 2016. Embora, ainda em fase de inicial, alguns atletas de ponta de diferentes modalidades já começaram a ter assistência desses aparatos, como foi o caso do ginasta Diego Hypólito. Após filmagem, o bicampeão mundial ficou surpreso ao rever seu salto numa sequência de posições congeladas na mesma imagem na tela do laptop. Quando pode fazer a seguinte análise: - Nossa, estou entrando baixo. Quando faço um salto mais simples faço uma entrada melhor. Não só ele, mas seu técnico Renato Araújo, também concorda que as novas tecnologias irão auxiliar em muito o treinamento, e possivelmente melhorar os resultados de seus atletas. Para saber mais, leia a matéria “No laboratório Olimpíco, Hypólito injeta tecnologia na sua rotina de treinos”, divulgada no Globoesporte no dia 23/03/2011.